sexta-feira, 8 de maio de 2020

À porta de casa

Fechei a porta de ferro pela última vez.

Caminhei para a rua, o futuro soprou nas flores amarelas do ipê

E em mim a voz incansável sussurrou

Gauche, gauche, gauche na vida...

Tomei sua mão solitária e conduzi-nos em frente...

Temos em nossas costas uma bagagem mágica

Que nas ladeiras abaixo é leve e flutua

Mas nas íngremes esteiras pesa cheia de lembranças

É preciso varrer os quintais

Mesmo que o Outono sempre chegue para espalhar as folhas de novo...

É preciso seguir pelas calçadas malcuidadas da cidade

Desviar dos buracos, manter firmes os pés

Virar a chave e trancar no quintal as tentativas vãs

Do lado de dentro da porta, aquilo que em vão tentaremos superar

Do outro lado, a torre de cubos que infantis insistimos em reconstruir.

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